Bocado

Fernanda Nunes
2 min readAug 27, 2023

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Vou abrir uma série neste Medium maravilhoso: o ódio às palavras.

“Ah, mas como assim odiar uma palavra? Por quê?”

Porque sim. E para iniciar, vamos com ela: BOCADO. Parece uma junção de letras inocente que, no dicionário, significa uma “porção de alimento que cabe na boca”. Mas é usado como advérbio de intensidade para substituir “muito”, “bastante”, “tanto” e coisa e tal.

O uso da palavra bocado é um subterfúgio linguístico para deixar o texto mais leve, informal, simples, abrasileirado, típico, regionalizado. Pena que é usado de forma esquisita para falar de temas nem tão leves, nem tão informais e muito menos simples:

“O governo Bolsonaro é um bocado burro”. Ué, tá aliviando pro ex-presidente por que, porra? Não é nada de bocado não, é PRA CARALHO de burro.

Ou um “já aconteceu um bocado de coisa nessa minha gestação”. É bom ou ruim? Não entendi. De toda forma, o trabalho de parir uma criança não cabe numa boca só.

São muitos exemplos e mau usos que fazem dessa simples palavra ser uma aversão à lingua portuguesa que é tão rica e vasta que me pergunto o que houve com os cinco trocentilhões de sinônimos que temos e que poderia ser usado de forma correta numa frase. Poderia associar com o exagero que algumas pessoas têm em reforçar um regionalismo forçado e com poucas referências, mas talvez seja só a falta de ler um bom livro mesmo. De toda forma, é interessante como o movimento tilelê desvirtuou uma simples palavra inocente. O uso correto não é tão comum nos textos literários quanto deveria e a porção que cabe na boca só existe para eu colocar um sinônimo “diferente” numa frase.

Tem razão o que escrevo? Provavelmente não, mas é preciso falar sobre o uso errado de sinônimos por aí. A investigação continua — e o ódio também.

Próxima palavra da série: SKIBUNDA. Aguarde mais informações.

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Fernanda Nunes

na maioria das vezes, os textos vêm quando vou dormir