Efeito Pinscher

Fernanda Nunes
2 min readOct 21, 2021

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rrrrrrwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww caraio de asa, sai fora, porra, boceta, se foder, cacete

Quando a gente ainda tava se acostumando com palavras como coronavírus, pandemia, isolamento social e genocida, lá em abril, maio de 2020, alguma parte remota de mim acreditava que poderíamos tirar uma lição deste momento péssimo que vivíamos e vivemos.

O que me faz refletir onde tava com a cabeça.

Já estamos em outubro de 2021, o tempo passou, a vacina, enfim, chegou, e a “vida normal” já é normal há um tempão. Mas a gente não.

A gente morfou para pinschers nervosos que vivem momentos de incertezas num país controlado por um louco inconsequente. Se falta o troco do pão, as pessoas já colocam toda sua fúria pra trabalhar : “tô gravano, devolve o troco agora! Né mulher não? Né homem não? Tá tudo gravado!!!”.

(In)felizmente voltei a trabalhar presencialmente, e dentro do vagão do metrô, vi uma moça com a máscara no queixo, daquele jeito que a covid-19 adora.

Poderia ter várias reações do mundo, mas optei por subir no alto da pedra da moral científica que vivo e dei um belo esculacho da mulher. Não que eu estivesse errada e ela certa, mas a forma como eu me expresso também diz muito sobre mim mesma e fala sério, não passei dois anos enfiada dentro de casa para tratar as pessoas na grosseria. Não sou um pinscher (na maioria das vezes).

No geral, tentamos controlar essa raiva no coração, que é legítima. Vivemos um período muito difícil, complicado e sombrio da história do mundo (e principalmente do Brasil), não temos esperança de que as coisas irão melhorar tão cedo.

É totalmente compreensível tanto ódio, mas como não podemos expressar de forma selvagem, a gente rosna.

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Fernanda Nunes
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Written by Fernanda Nunes

na maioria das vezes, os textos vêm quando vou dormir

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