Sommelier de dor de cabeça

Fernanda Nunes
2 min readFeb 11, 2024

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Tenho enxaqueca/dor de cabeça desde que me entendo por gente. As dores e as causas foram mudando ao longo da vida, mas sempre me acompanhando para estragar algum rolê. É quase uma dádiva saber diferenciar quando é uma mera dor de cabeça de sinusite ou se é cefaléia ou até mesmo enxaqueca! Um superpoder - inútil, mas ainda um SUPERpoder.

Ela pode chegar como uma cabeça pesada pela manhã, um ardor no nariz no meio do dia, uma leve sensação de enjoo com uma dor fininha nos seios da face... Ou só uma pressão mesmo, de leve, uma coisa quase fantasma, rondando uma cabeça. Não tem como correr: a gente vai usar umidificador, lavagem nasal, beber litros de água, praticar atividade física ou qualquer coisa coisa aí.

Pra quem é do bonde da automedicação como eu, experimentar cada analgésico na farmácia é parte da experiência. Já passei por Neosaldina, Dorflex, dipirona, Trilax, Trandrilax. Fui estudando sobre eles no paralelo até encontrar a classe dos triptanos (ah, procura aí no Google) com o Naramig.

Nas últimas idas ao neuro, teve de tudo: remédio para dias de crise, um "é assim mesmo, fazer o quê" e até recomendação de inalação por oxigênio - que sim, tem eficácia comprovada mas que nunca tentei.

A última vez que fui ao pronto socorro por causa dessa merda eu só vomitava, os médicos enfiando dipirona na minha veia quando ele não funciona para crises (mas não adianta falar) com Dramin. Fiquei seis horas por lá e só melhorou depois que me deram um remédio que já não lembro mais o nome mas que foi certeiro.

O que me leva para um outro ponto.

O barato que é o pós-enxaqueca. Isso vocês, privilegiados sem dor de cabeça, nunca terão. Quando a sensação de morte passa, quando finalmente param de martelar na sua cabeça, quando a visão turva cessa e só sobra algum hormônio muito daora.

Esse pós é incrível. Pra mim, sinto um reviver. "Hum, então é assim que as pessoas vivem sem dor de cabeça 🤔". Vem aquela fome e uma "sede do bem", sua língua não está seca igual a de um lagarto. As ideias voltam para o lugar e pensar não parece uma tarefa impossível ou irritante. Viver! Aaaaah, viver.

Aí a gente curte a brisa: se alimenta, toma um banho, veste roupas limpas... Foram só algumas horas de muita dor, que é tão aguda em pouco tempo que até você se pergunta se, de fato, aquilo aconteceu. Será que foi um sonho esquisito ou eu realmente estava cogitando bater minha cabeça na parede porque mal dava para abrir meus olhos de dor?

E a vida segue normal, sem sequelas. Bora viver - até o organismo disser que não, aí não vai ter jeito.

Quando tem que vir, aceita. Toma seu Naramig e deixa o efeito chegar.

Eu te odeio, enxaqueca.

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Fernanda Nunes

na maioria das vezes, os textos vêm quando vou dormir